quinta-feira, 19 de março de 2009

Eu amo,tu amas, ele ama.

Amar

Carlos Drummond de Andrade

Que pode uma criatura senão,
senão entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.



Para que eu não fosse injusta com os vários poemas que nesse ano constam em meu livro de Português, decidi abri-lo em uma página qualquer e o que constasse ou sobre o que constasse nela eu escreveria aqui.
Então, deparei-me com essa linda poesia de Drummond que eu já havia lido em algum lugar e que por, sem pensar além, ter gostado muito, ficou guardada em minha memória.
Eu não poderia descrevê-la, e quem poderia descrever o amor?
(Para mim)O verbo amar não é uma ação involuntária, porque depende e causa consequências não só em um mas em tudo ao redor. E o sentimento amar é como um sentimento involuntário.
E que tristeza ele ser involuntário, mas que tristeza se ele não fosse..
Involuntário ou não, o ser humano consegue distorcer os bons sentimentos olhando e encontrando em tudo o lado frio, amargo e só, que é completamente o contrário de amar.
O amor é o todo e o tudo e antes dos outros é o amor por aquilo que somos...
"Amar a nossa falta de amor, e na secura nossa amar a água implícita e o beijo tácito e a sede infinita."
Não bastassem as hipérboles,aparecem as antíteses também nesse post..
Eita confusão.Confusão, que nada!É a culpa boa da poesia!
Mas para a bela poesia ser sentida, ela tem que ser criada por alguém e recriada por cada um dentro de si mesmo.
Mas ser recriada de uma forma que não modifique sua essência, mas modifique o nosso Ser em relação ao que ela é.

Agora, me digam, o que pode uma criatura senão, entre criaturas,amar?

4 comentários:

Isabela disse...

Amar, amar, amar... Verbo mais falado, mais sentido, e às vezes menos usado, menos atuado. O amor nos torna melhor e isso se faz claro em cada atitude nossa em que ele esteja presente. Todo mundo ama. Não só uma pessoa do sexo oposto, mas ama pessoas em geral.
Sei que é amar é muito bom, e saber que se é amado, é melhor ainda!

Eu amo, tu amas, ele ama, nós amamos, vós amais, eles amam!

Verbos na presente são tão bons de conjugar!
beijo!

Isabela disse...

Acabei esquecendo de colocar:

"A medida de amar, é amar sem medida..."
(Números; EngHaw)

Mateus disse...

Que interessante! Essas coisas de você buscar numa página casual de um livro a resposta para o que deseja no momento. Isso me faz pensar que nada é por acaso e que tudo que nos acontece tem algum motivo! Crio aqui uma ponte com o meu comentário do verbo errar. Por acreditar que tudo o que me acontece, seja positivo ou negativo, me acontece por alum motivo, procuro aproveitar estas ocasiões, se boas pra simplesmente me sentir feliz ao desfrutar, se ruins, acreditar que provirá algo de bom, nem que seja o mero fortalecimento nos calos da mente.

Amor, o sentimento mais puro.
Para mim o amor não tem porquê!

Neto disse...

"Deus é amor, aprendemos viver por amor..."

Comecei assim por acreditar que, antes de tudo, Ele é amor. Se somos d'Ele formados, somos também amor. Compreender é que é dificil. "Amar o perdido deixa confundido esse coração". Tem hora que penso que o amor não é pra nós, somos humanos demais para o amor, e aí misturamos com amargura e tristeza, porque, além de amor, temos amargura e tristeza em nós. O amor depede e causa consequencia em nós, nos outros, e mais, no outro. O amor é coletivo, mas nós não sabemos nem usar coletivamente as terras, que vemos e tocamos, que dirá o amor, que vemos apenas nos sonhos. Como escreveu Drummond: "Amar se aprende amando" e eu concordo, penso nisso, mas entre o pensar e o fazer, muitas vezes, existe o esperar, porque não temos coragem, ou porque não depende de nós.