Namorados
Manuel Bandeira
O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
— Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com a sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
— Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listada?
A moça se lembrava:
— A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
— Antônia, você parece uma lagarta listada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
— Antônia, você é engraçada! Você parece louca.
Nosso livro de Gramática contém um monte de histórias em quadrinhos: engraçadíssimas, críticas e outras com pouca graça. Tem também trecho de textos ou então poemas sempre escritos com o título vermelho e o fundo bege, de forma a caracterizá-los. Sempre numa pausa da aula de Português, eu e duas amigas folheamos as páginas parando nas que tem tirinhas. Dia desses foi a vez desse poema. Após ler umas trinta tirinhas, o poema veio a nós chamando-nos pelo título: Namorados.
Lemos. Relemos. Olhamos uma pra outra buscando entender se havia sentido e se haveria mesmo entendimento entre as três.
Não há sentido. O sentido se faz pra cada um e até para os dois de forma distinta. Mas o sentido sobre namorados fica pra outrora.
No poema dá pra se notar que a fala não foi algo pensado. É algo que surgiu imediatamente e que na meninice do momento, poderia compará-la a qualquer outra coisa mais: a um pássaro, uma flor, um perfume, compará-la também às coisas mais lindas que existem.
Me fez lembrar uma música que dizia das coisas tão mais lindas:
“Está em cima com o céu e o luar.
Hora dos dias, semanas, meses, anos, décadas
E séculos, milênios que vão passar.
Água-marinha põe estrelas no mar,
Praias, baías, braços, cabos, mares, golfos
E penínsulas e oceanos que não vão secar.”
A esperança de dias que vão passar, de ver estrelas num mergulho ao mar, de milênios que vão se concretizar e de oceanos que nunca vão secar é como o amor. A busca por algo que não acaba,se for verdadeiro. Passem dias,meses,anos,séculos. A gente se faz eternizar no outro.Não estou dizendo apenas do amor entre um homem e uma mulher, está além disso,nas amizades e em cada um.
Falemos então,não do sentido de amor e namoro, e sim das trocas verbais..
Menino pra menina e vice-versa: - Amor, você é linda! – Cor de rosa!- Tá neguinha hoje ein!- Suas unhas estão crescendo, já pensei em passar base nas minhas,o que acha,querida? – Há algo meio verde nos seus dentes(essa não, né.hehe).Olhares, sorrisos, Verbos conjugados no Presente do Indicativo. E assim vai.. Não falemos de xuxú,bebê e outras caracterizações ou formas de tratamento, seja lá como isso é chamado.
Nós, mulheres, temos mania de nos perguntar se o sentimento é recíproco e se em meio à tantos estereótipos entre diferença de homem e mulher, se eles conseguem sentir o romantismo e sê-lo. Garotas que se questionam, podem crer que no momento, o que é sincero sobrepõe-se e é perceptível num simples pegar das mãos a um olhar que chama ao beijo.
Toda menina, namorada ou não, teve seus dias de lagarta listada.
Então, eu quero ouvir me dizerem:
-Isa, você é engraçada. Você parece louca. Parece uma lagarta listada.
-Obrigada pelo elogio. Passado algum tempo, não respondo por meus atos. Hehe.
Vem dizer que você não quer ser lagarta listada?