quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Até tu, Méri?

Méri sabia mais ou menos como era a sensação de missão mal-cumprida ou vontade de fazer voltar o tempo e gesticular, falar, mostrar o que antes não tivera coragem de ousar. Sentiu a todo momento como se as salivas de sua boca tivessem secado e as palavras sido engolidas por sua garganta e embora quisesse ter um guincho para puxá-las não teve e deixou que ficassem presas lá.
Vamos tomar um suco?
As quatro palavras viajaram no fundo de sua alma e retornaram num grito para o mundo todo: Sim, vamos tomar um suco. Sonhou fazer isso, mas foi impedida por suas próprias imbecilidades eufemismadas pela palavra precaução e então não foi um grito longo, mas um breve sim não carregado de vontade nem de entusiasmo nem de alegria e sim, de timidez.
A boca seca, as pernas trêmulas e o medo das palavras desencontradas ou não bem entendidas fizeram-na perder a oportunidade de uma mudança ou ao menos de uma tentativa.
Passaria seus próximos dias sonhando em ser muita coisa, em fazer e falar muita coisa, mas não faria nada, as salivas voltariam a evaporar e os sim’s tornar-se-iam cada dia mais escusos, sua pessoa mais invisível, sem brilho nem suco, sem água nem nada.

2 comentários:

Isabela disse...

Foi há muito tempo que minha saliva secou e meu sim foi inteiramente tímido. Mas não me esquecerei da sensação.

Acho que sempre ficamos com vontade de dizer mais e gesticular mais, e expressar mesmo. Eu pelo menos, sempre fico.

Neto disse...

Mudanças aqui, heim?

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Méri, até ela? Essas atitudes miseráveis com si mesma são proprias do medo. O medo de tudo, que vira medo de si. Pobre Méri.